O máximo de liberdade que o ser humano pode aspirar é escolher a
prisão na qual quer viver.
Pode-se aceitar esta verdade com pessimismo ou otimismo, mas é
impossível refutá-la. A liberdade é uma abstração. Liberdade não é
uma calça velha, azul e desbotada, e sim, nudez total, nenhum
comportamento para vestir. No entanto, a sociedade não nos deixa
sair à rua sem um crachá de identificação pendurado no pescoço.
Diga-me qual é a sua tribo e eu lhe direi qual é a sua clausura. São
cativeiros bem mais agradáveis do que Carandiru: podemos pegar sol,
ler livros, receber amigos, comer bons pratos, ouvir música, ou
seja, uma cadeia à moda Luis Estevão, só que temos que advogar em
causa própria e habeas corpus, nem pensar.
O casamento pode ser uma prisão. E a maternidade, a pena máxima. Um
emprego que rende um gordo salário trancafia você, o impede de
chutar o balde e arriscar novos vôos. O mesmo se pode dizer de um
cargo de chefia. Tudo que lhe dá segurança ao mesmo tempo lhe
escraviza. Viver sem laços igualmente pode nos reter. Uma vida
mundana, sem dependentes pra sustentar, o céu como limite: prisão
também. Você se condena a passar o resto da vida sem experimentar a
delícia de uma vida amorosa estável, o conforto de um endereço certo
e a imortalidade alcançada através de um filho.
Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres, aceitemos
que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória. Nós é
que decidimos quando seremos capturados e para onde seremos levados.
É uma opção consciente. Não nos obrigaram a nada, não nos
trancafiaram num sanatório ou num presídio real, entre quatro
paredes.
Nosso crime é estar vivo e nossa sentença é branda, visto que
outros, ao cometerem o mesmo crime que nós - nascer - foram
trancafiados em lugares chamados analfabetismo, miséria, exclusão.
Brindemos!!!
Temos todos cela especial!
Formato por Pablo Vázquez
em 22.11.2005
